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Tom Jobim

A FELICIDADE

Tristeza não tem fim, felicidade, sim…

A felicidade é como a pluma

Que o vento vai levando pelo ar

Voa tão leve, mas tem a vida breve

Precisa que haja vento sem parar…

A felicidade do pobre parece

A grande ilusão do carnaval,

A gente trabalha o ano inteiro

Por um momento do sonho

Pra fazer a fantasia de rei ou pirata ou jardineira

Pra tudo se acabar na quarta-feira

A felicidade é como gota de orvalho numa pétala de flor

Brilha tranqüila, depois de leve oscila

E cai como uma lágrima de amor

A minha felicidade está sonhando

Nos olhos da minha namorada

É como esta noite passando, passando

Em busca da madrugada

Falem baixo por favor

Pra que ela acorde alegre como o dia

Oferecendo beijos do amor


A VIOLEIRA

Desde menina, caprichosa e nordestina

Que eu sabia, a minha sina era no Rio ir morar

Em Araripe topei com um chofer dum jeep

Que descia pra Sergipe pro serviço militar

Esse maluco me largou em Pernambuco

Quando um cara de trabuco me pediu pra namorar

Mais adiante, num estado interessante

Um caixeiro viajante me levou pra Macapá

Uma cigana revelou que a minha sorte

Era ficar naquele Norte e eu não queria acreditar

Juntei os trapos com um velho marinheiro

Viajei no seu cargueiro que encalhou no Ceará

Voltei pro Crato, fui fazer artesanato

De barro bom e barato pra mode economizar

Eu era um broto e também fiz muito garoto

Um mais bem feito que o outro, eles só faltam falar

Juntei a prole e me atirei no São Francisco

Enfrentei raio, corisco, correnteza e coisa má

Inda arrumei com um artista em Pirapora

Mais um filho e vim-me embora, cá no Rio vim parar

Ver Ipanema foi que nem beber Jurema

Que cenário de cinema, que poema à beira mar

E não tem tira, nem doutor, nem ziquizira

Quero ver quem é que tira nóis aqui desse lugar

Será verdade que eu cheguei nessa cidade

Pra primeira autoridade resolver me escorraçar?

Com a tralha inteira remontar a Mantiqueira

Até chegar na corredeira, o São Francisco me levar?

Me distrair nos braços de um barqueiro sonso

Despencar na Paulo Afonso, o oceano me afogar

Perder os filhos em Fernando de Noronha

E voltar morta de vergonha pro sertão de Quixadá?

Tem cabimento, depois de tanto tormento

Me casar com algum sargento e todo sonho desmanchar?

Não tem carranca, nem trator, nem alavanca

Eu quero ver quem é que arranca nóis aqui deste lugar!


ÁGUAS DE MARÇO

É pau, é pedra, é o fim do caminho

É um resto de toco, é um pouco sozinho

É um caco de vidro, é a vida, é o sol

É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol

É peroba no campo, é o nó da madeira

Caingá candeia, é o matita-pereira

É madeira de vento, tombo da ribanceira

É o mistério profundo, é o queira ou não queira

É o vento ventando, é o fim da ladeira

É a viga, é o vão, festa da cumeeira

É a chuva chovendo, é conversa ribeira

Das águas de março, é o fim da canseira

É o pé, é o chão, é a marcha estradeira

Passarinho na mao, pedra de atiradeira

É uma ave no céu, é uma ave no chão

É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão

É o fundo do poço, é o fim do caminho

No rosto um desgosto, é um pouco sozinho

É um estepe, é um prego, é uma conta, é um conto

É um pingo pingando, é uma conta, é um ponto

É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando

É a luz da manha, é o tijolo chegando

É a lenha, é o dia, é o fim da picada

É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada

É o projeto da casa, é o corpo na cama

É o carro enguicado, é a lama, é a lama

É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã

É um resto de mato na luz da manhã

São as águas de março fechando o verão

É a promessa de vida no teu coração

É uma cobra, é um pau, é João, é José

É um espinho na mão, é um corte no pé

São as águas de março fechando o verão

É a promessa de vida no teu coração

É pau, é pedra, é o fim do caminho

É um resto de toco, é um pouco sozinho

É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã


ANOS DOURADOS

Parece que dizes: “te amo, Maria”

Na fotografia estamos felizes

Te ligo afobada e deixo confissões no gravador

Vai ser engraçado se tens um novo amor

Me vejo a teu lado

Te amo? Não lembro

Parece dezembro de um ano dourado

Parece bolero, te quero, te quero

Dizer que não quero

Teus beijos nunca mais

Teus beijos nunca mais

Não sei se ainda te esqueço de fato

No nosso retrato pareço tão linda

Te ligo ofegante e digo confusões no gravador

É desconcertante rever o grande amor

Meus olhos molhados, insanos, dezembros

Mas quando eu me lembro são anos dourados

Ainda te quero, bolero, nossos versos são banais

Mas como eu espero

Teus beijos nunca mais

Teus beijos nunca mais


BÔTO

A praia de dentro tem areia

A praia de fora tem o mar

Um boto casado com sereia

Navega num rio pelo mar

O corpo dum bicho deu na praia

E a alma perdida quer voltar

Caranguejo conversa com arraia

Marcando a viagem pelo ar

Ainda ontem vim de lá do Pilar

Ontem vim de lá do Pilar

Com vontade de ir por aí

Na ilha deserta o sol desmaia

Do alto do morro vê-se o mar

Papagaio discute com Jandaia

Se o homem foi feito pra voar

Inhambu cantou lá na floresta

E o velho Jereba fêz-se ao ar

Sapo querendo entrar na vesta

Viola pesada pra voar

Ainda ontem vim de lá do Pilar

Ontem vim de lá do Pilar

Com vontade de ir por aí

Camiranga, urubu, mestre do vento

Urubu caçador, mestre do ar

Urutau cantando num lamento

Pra lua redonda navegar…


CARTA AO TOM

Rua Nascimento e Silva, cento e sete, você ensinando prá Elizeth

As canções de “Canção do Amor Demais”

Lembra que tempo feliz, ai que saudade, Ipanema era só felicidade

Era como se amor doesse em paz

Nossa famosa garota nem sabia a que ponto a cidade turvaria

Esse Rio de amor que se perdeu

Mesmo a tristeza da gente era a mais bela e além disso se via da janela

Um cantinho de céu e o Redentor

É meu amigo, só resta uma certeza, é preciso acabar com essa tristeza

É preciso inventar de novo o amor

Rua Nascimento e Silva, cento e sete, eu saio correndo do pivete

Tentando alcançar o elevador

Minha janela não passa de um quadrado, a gente só vê Sérgio Dourado

Onde antes se via o Redentor

É meu amigo só resta uma certeza, é preciso acabar com a natureza

É melhor lotear o nosso amor


CHEGA DE SAUDADE

Vai minha tristeza,

E diz a ela que sem ela não pode ser.

Diz-lhe uma prece que ela regresse,

Porque eu não posso mais sofrer.

Chega de saudade.

A realidade é que sem ela não há paz,

Não é beleza, é só tristeza.

E a melancolia que não sai de mim.

Não sai de mim.

Não sai.

Mas, se ela voltar se ela voltar,

Que coisa linda, que coisa louca,

Pois há menos peixinhos a nadar no mar,

Do que os beijinhos que eu darei na sua boca.

Dentro dos meus braços,

Os abraços, hão de ser milhões de abraços.

Apertado assim, colado assim, calado assim.

Abraços e beijinhos e carinhos, sem ter fim,

Que é pra acabar com esse negócio,

De você viver sem mim.

Não quero mais esse negócio,

De você longe de mim.

Vamos deixar desse negócio,

De você viver sem mim.


CORCOVADO

Um cantinho, um violão

Este amor, uma canção

Pra fazer feliz a quem se ama

Muita calma pra pensar

E ter tempo pra sonhar

Da janela vê-se o Corcovado

O Redentor, que lindo

Quero a vida sempre assim

Com você perto de mim

Até o apagar da velha chama

E eu que era triste

Descrente desse mundo

Ao encontrar você eu conheci

O que é a felicidade, meu amor


DEMAIS

Todos acham que eu falo demais

E que eu ando bebendo demais

Que essa vida agitada não serve pra nada

Andar por aí bar em bar, bar em bar

Dizem até que ando rindo demais

E que conto anedotas demais

Que eu não largo o cigarro e dirijo o meu carro

Correndo, chegando, no mesmo lugar

Ninguém sabe é que isso acontece porque

Vou passar toda a vida esquecendo você

E a razão porque vivo esses dias banais

É porque ando triste, ando triste demais

E é por isso que eu falo demais

É por isso que eu bebo demais

E a razão porque vivo essa vida agitada demais

É porque meu amor por você é imenso

O meu amor por você é tão grande

(É porque) Meu amor por você é enorme demais


DESAFINADO

Se você disser que eu desafino, amor

Saiba que isso em mim provoca imensa dor

Só privilegiados tem ouvido igual ao seu

Eu possuo apenas o que Deus me deu

Se você insiste em classificar

Meu comportamento de antimusical

Eu mesmo mentindo, devo argumentar

Que isto é bossa nova, que isso é muito natural

O que você não sabe, nem sequer pressente

É que os desafinados também tem coração

Fotografei você na minha Rolley-Flex

Revelou-se a sua enorme ingratidão

Só não poderá falar assim do meu amor

Este é o maior que você pode encontrar, viu!

Você com a sua música esqueceu o principal

Que no peito dos desafinados

No fundo do peito, bate calado

No peito dos desafinados

Também bate um coração


DINDI

Céu, tão grande é o céu e bandos de nuvens que passam ligeiras

Pra onde elas vão, ah! eu não sei, não sei

E o vento que fala nas folhas contando as histórias que são de ninguém

Mas que são minhas e de você também

Ah! Dindi

Se soubesses do bem que eu te quero

O mundo seria, Dindi, tudo, Dindi, lindo Dindi

Ah! Dindi

Se um dia você for embora me leva contigo, Dindi

Fica, Dindi, olha Dindi

E as águas deste rio aonde vão eu não sei

A minha vida inteira esperei, esperei

Por você, Dindi

Que é a coisa mais linda que existe

Você não existe, Dindi

Olha, Dindi

Adivinha, Dindi

Deixa, Dindi

Que eu te adore, Dindi


ESTE SEU OLHAR

Este seu olhar

Quando encontra o meu

Fala de umas coisas

Que eu não posso acreditar

Doce é sonhar

É pensar que você

Gosta de mim

Como eu de você!

Mas a ilusão

Quando se desfaz

Dói no coração

De quem sonhou

Sonhou demais

Ah! Se eu pudesse entender

O que dizem os teus olhos…


EU SEI QUE VOU TE AMAR

Eu sei que vou te amar, por toda a minha vida eu vou te amar

A cada despedida eu vou te amar

Desesperadamente eu sei que vou te amar

E cada verso meu será pra te dizer

Que eu sei que vou te amar por toda a minha vida

Eu sei que vou chorar, a cada ausência tua eu vou chorar

Mas cada volta tua há de apagar

O que essa tua ausência me causou

Eu sei que vou sofrer a eterna desventura de viver

À espera de viver ao lado teu por toda a minha vida


FALANDO DE AMOR

Se eu pudesse por um dia

Esse amor, essa alegria

Eu te juro, te daria

Se pudesse esse amor todo dia

Chega perto, vem sem medo

Chega mais meu coração

Vem ouvir este segredo

Escondido num choro canção

Se soubesses como eu gosto

Do teu cheiro, teu jeito de flor

Não negavas um beijinho

A quem anda perdido de amor

Chora flauta, chora pinho

Choro eu o teu cantor

Chora manso, bem baixinho

Nesse choro falando de amor

Quando passas, tão bonita

Nessa rua banhada de sol

Minha alma segue aflita

E eu me esqueço até do futebol

Vem depressa, vem sem medo

Foi pra ti meu coração

Que eu guardei este segredo

Escondido num choro canção

Lá no fundo do meu coração


FOI A NOITE

Foi a noite, foi o mar , eu sei

Foi a lua que me fez pensar

Que você me queria outra vez

E que ainda gostava de mim

Ilusão, eu bebi, talvez

Foi amor por você bem sei

A saudade aumenta com a distância

E a ilusão é feita de esperança

Foi a noite, foi o mar, eu sei

Foi você…


GAROTA DE IPANEMA

Olha que coisa mais linda

Mais cheia de graça

É ela menina que vem e que passa

Num doce balanço a caminho do mar

Moça do corpo dourado, do sol de Ipanema

O teu balançado é mais que um poema

É a coisa mais linda que eu já vi passar

Ah, porque estou tão sozinho

Ah, porque tudo é tão triste

Ah, a beleza que existe

A beleza que não é só minha

Que também passa sozinha

Ah, se ela soubesse que quando ela passa

O mundo inteirinho se enche de graça

E fica mais lindo por causa do amor


INSENSATEZ

A insensatez que você fez

Coração mais sem cuidado

Fez chorar de dor o seu amor

Um amor tão delicado

Ah! Porque você foi fraco assim

Assim tão desalmado

Ah! Meu coração quem nunca amou

Não merece ser amado

Vai meu coração, ouve a razão

Usa só sinceridade

Quem semeia vento, diz a razão

Colhe sempre tempestade

Vai meu coração

Pede perdão, perdão apaixonado

Vai porque não pede perdão

Não é nunca perdoado


LÍGIA

Eu nunca sonhei com você, nunca fui ao cinema

Não gosto de samba, não vou a Ipanema

Não gosto de chuva, nem gosto de sol

E quando eu lhe telefonei, desliguei, foi engano

O seu nome eu não sei

Esqueci no piano as bobagens de amor que eu iria dizer

Não, Ligia, Ligia

Eu nunca quis tê-la ao meu lado num fim de semana

Um chope gelado em Copacabana, andar pela praia até o Leblon

E quando eu me apaixonei não passou de ilusão, o seu nome rasguei

Fiz um samba-canção das mentiras de amor que aprendi com você

É Ligia, Ligia

E quando você me envolver com seus braços serenos eu vou me render

Mas seus olhos morenos me metem mais medo que um raio de sol

Ligia, Ligia

Você se aproxima de mim com esses modos estranhos, e eu digo que sim

Mas seus olhos castanhos me metem mais medo que um raio de sol

Lígia, Lígia


LUÍZA

Rua espada nua

Bóia no céu imensa e amarela

Tão redonda a lua

Como flutua

Vem navegando

O azul do firmamento

E num silêncio lento

Um trovador, cheio de estrelas

Escuta agora a canção que eu fiz

Pra te esquecer Luíza

Eu sou apenas um pobre amador

Apaixonado

Um aprendiz do teu amor

Acorda, amor

Que eu sei que embaixo desta neve mora um coração

Vem cá, Luíza, me dá tua mão

O teu desejo é sempre o meu desejo

Vem, me exorciza

Dá-me tua boca

E a rosa louca

Vem me dar um beijo

E um raio de sol

Nos teus cabelos

Como um brilhante que partindo a luz

Explode em sete cores

Revelando então

Os sete mil amores

Que eu guardei somente

Pra te dar, Luíza


MARCHA DA QUARTA-FEIRA DE CINZAS

Acabou nosso carnaval, ninguém ouve cantar canções

Ninguém passa mais brincando feliz

E nos corações saudades e cinzas foi o que restou

Pelas ruas o que se vê é uma gente que nem se vê

Que nem se sorri, se beija e se abraça

E sai caminhando, dançando e cantando cantigas de amor

E no entanto é preciso cantar

Mais que nunca é preciso cantar

É preciso cantar e alegrar a cidade

A tristeza que a gente tem qualquer dia vai se acabar

Todos vão sorrir, voltou a esperança

É o povo que dança, contente da vida feliz a cantar

Porque são tão tantas coisas azuis, há tão grandes promessas de luz

Tanto amor para amar que a gente nem sabe

Quem me dera viver pra ver e brincar outros carnavais

Com a beleza dos velhos carnavais

Que marchas tão lindas

E o povo cantando seu canto de paz


MODINHA

Ah, não pode mais meu coração

Viver assim dilacerado

Escravizado a uma ilusão

Que é só desilusão

Não, não seja a vida sempre assim

Como o luar desesperado

A derramar melancolia em mim

Poesia em mim

Vai triste canção

Sai do meu peito e semeia emoção

Que chora dentro do meu coração

Coração


O AMOR EM PAZ

Eu amei

E amei ai de mim muito mais

Do que devia amar

E chorei

Ao sentir que iria sofrer

E me desesperar

Foi então

Que da minha infinita tristeza

Aconteceu você

A razão de viver

E de amar em paz

E não sofrer mais

Nunca mais

Porque o amor

É a coisa mais triste

Quando se desfaz

O amor é a coisa mais triste

Quando se desfaz


O QUE TINHA DE SER

Porque foste na vida

A última esperança

Encontrar-te me fez criança

Porque já eras meu

Sem eu saber sequer

Porque és o meu homem

E eu tua mulher

Porque tu me chegaste

Sem me dizer que vinhas

E tuas mãos foram minhas com calma

Porque foste em minh’alma

Como um amanhecer

Porque foste o que tinha de ser


PELA LUZ DOS OLHOS TEUS

Quando a luz dos olhos meus

E a luz dos olhos teus

Resolvem se encontrar

Ai que bom que isso é meu Deus

Que frio que me dá o encontro desse olhar

Mas se a luz dos olhos teus

Resiste aos olhos meus só pra me provocar

Meu amor, juro por Deus me sinto incendiar

Meu amor, juro por Deus

Que a luz dos olhos meus já não pode esperar

Quero a luz dos olhos meus

Na luz dos olhos teus sem mais lará-lará

Pela luz dos olhos teus

Eu acho meu amor que só se pode achar

Que a luz dos olhos meus precisa se casar


PIANO NA MANGUEIRA

Mangueira

Estou aqui na plataforma

Da Estação Primeira

O Morro veio me chamar

De terno branco e chapéu de palha

Vou me apresentar à minha nova parceira

Já mandei subir o piano pra Mangueira

A minha música não é de levantar

Poeira

Mas pode entrar no barracão

Onde a cabrocha pendura a saia

No amanhecer da quarta-feira

Mangueira

Estação Primeira de Mangueira


POR CAUSA DE VOCÊ

Ah, você está vendo só do jeito que eu fiquei

E que tudo ficou

Uma tristeza tão grande nas coisas mais simples

Que você tocou

A nossa casa querido já estava acostumada

Aguardando você

As flores na janela sorriam, cantavam

Por causa de você

Olhe, meu bem, nunca mais nos deixe por favor

Somos a vida e o sonho, nós somos o amor

Entre meu bem, por favor

Não deixe o mundo mau te levar outra vez

Me abrace simplesmente

Não fale, não lembre

Não chore meu bem


PRA DIZER ADEUS

Adeus

Vou pra não voltar

E onde quer que eu vá

Sei que vou sozinho

Tão sozinho amor

Nem é bom pensar

Que eu não volto mais

Desse meu caminho

Ah, pena eu não saber

Como te contar

Que o amor foi tanto

E no entanto eu queria dizer

Vem

Eu só sei dizer

Vem

Nem que seja só

Pra dizer adeus


QUERIDA

Longa é a tarde, longa é a vida

De tristes flores, longa ferida

Longa é a dor do pecador, querida

Breve é o dia, breve é a vida

De breves flores na despedida

Longa é a dor do pecador, querida

Breve é a dor do trovador, querida

Longa é a praia, longa restinga

Da Marambaia à Joatinga

Grande é a fé do pescador, querida

E a longa espera do caçador, perdida

O dia passa e eu nessa lida

Longa é a arte, tão breve a vida

Louco é o desejo do amador, querida, querida

Longo é o beijo do amador, bandida

Belo é o jovem mergulhador, na ida

Vasto é o mar, espelho do céu, querida, querida

Querida

Você tão linda nesse vestido

Você provoca minha libido

Chega mais perto meu amor bandido

Bandida, fingido, fingida, querido, querida


RETRATO EM BRANCO E PRETO

Já conheço os passos dessa estrada, sei que não vai dar em nada

Seus segredos sei de cor

Já conheço as pedras do caminho e sei também que ali sozinho

Eu vou ficar, tanto pior, o que é que eu posso contra o encanto

Desse amor que eu nego tanto, evito tanto

E que no entanto volta sempre a enfeitiçar

Com seus mesmos tristes velhos fatos

Que num álbum de retrato eu teimo em colecionar

Lá vou eu de novo como um tolo, procurar o desconsolo

Que cansei de conhecer

Novos dias tristes, noites claras, versos, cartas

Minha cara, ainda volto a lhe escrever

Pra lhe dizer que isso é pecado, eu trago o peito tão marcado

De lembranças do passado e você sabe a razão

Vou colecionar mais um soneto, outro retrato em branco e preto

A maltratar meu coração


SABIÁ

Vou voltar, sei que ainda

Vou voltar para o meu lugar

Foi lá e é ainda lá

Que eu hei de ouvir cantar

Uma sabiá, cantar uma sabiá

Vou voltar, sei que ainda

Vou voltar

Vou deitar à sombra de uma palmeira

Que já não há

Colher a flor que já não dá

E algum amor, talvez possa espantar

As noites que eu não queria

E anunciar o dia

Vou voltar sei que ainda

Vou voltar

Não vai ser em vão

Que fiz tantos planos de me enganar

Como fiz enganos de me encontrar

Como fiz estradas de me perder

Fiz de tudo e nada de te esquecer


SE TODOS FOSSEM IGUAIS À VOCÊ

Vai tua vida, teu caminho é de paz e amor

A tua vida é uma linda canção de amor

Abre os teus braços e canta a última esperança

A esperança divina de amar em paz

Se todos fossem iguais a você

Que maravilha viver

Uma canção pelo ar

Uma mulher a cantar

Uma cidade a cantar

A sorrir,a cantar, a pedir

A beleza de amar

Como o sol

Como a flor, como a luz

Amar sem mentir, nem sofrer

Existiria verdade

Verdade que ninguém vê

Se todos fossem no mundo

Iguais a você


SÓ EM TEUS BRAÇOS

Sim, promessas fiz

Fiz projetos, pensei tanta coisa

E agora o coração me diz

Que só em teus braços, meu bem

Eu ia ser feliz

Eu tenho este amor para dar

O que é que eu vou fazer

Eu tentei esquecer e prometi

Apagar da minha vida este sonho

E vem o coração e diz

Que só em teus braços, amor

Eu ia ser feliz

Que só em teus braços, amor

Eu posso ser feliz


SÓ TINHA DE SER COM VOCÊ

É, só eu sei quanto amor eu guardei

Sem saber que era só pra você

É, só tinha de ser com você

Havia de ser pra você

Senão era mais uma dor

Senão não seria o amor

Aquele que a gente não vê

O amor que chegou para dar

Porque ninguém deu pra você

O amor que chegou para dar o que ninguem deu

É, você que é feito de azul

Me deixa morar nesse azul

Me deixa encontrar minha paz

Você que é bonito demais

Se ao menos pudesse saber

Que eu sempre fui só de você

Você sempre foi só de mim


TEMA PARA GABRIELA

Todos os dias esta saudade, felicidade cadê você

Já não consigo viver sem ela

Eu vim à cidade pra ver Gabriela

Tenho pensado muito na vida

Volta bandida, mata essa dor

Volta pra casa, fica comigo

Eu te perdôo com raiva e amor

Chega mais perto, moço bonito

Chega mais perto meu raio de sol

A minha casa é um escuro deserto

Mas com você ela é cheia de sol

Molha tua boca na minha boca

A tua boca é meu doce, é meu sal

Mas quem sou eu nessa vida tão louca

Mais um palhaço no teu carnaval

Casa de sombra, vida de monge

Quanta cachaça na minha dor

Volta pra casa, fica comigo

Vem que eu te espero tremendo de amor


WAVE

Vou te contar, os olhos já não podem ver

Coisas que só o coração pode entender

Fundamental é mesmo o amor

É impossível ser feliz sozinho

O resto é mar, é tudo que eu nem sei contar

São coisas lindas que eu tenho pra te dar

Fundamental é mesmo o amor

É impossível ser feliz sozinho

Da primeira vez era a cidade

Da segunda, o cais e a eternidade

Agora eu já sei da onda que se ergueu no mar

E das estrelas que esquecemos de contar

O amor se deixa surpreender

Enquanto a noite vem nos envolver